quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Entrevista EXCLUSIVA com ROGÉRIO GRECO!


E isso aí, pessoal! Uma das figuras mais conhecidas nos meios concurseiros, especialmente entre os candidatos aos cargos policiais, graças a sua publicação "Atividade Policial" e suas obras de Direito Penal, entrevistamos dessa vez o Procurador de Justiça do Estado de Minas Gerais e um dos professores de Direito Penal mais reconhecidos do Brasil, Rogério Greco!

O contato com o professor foi primeiramente estabelecido com a 1ª Feira da Carreira Pública, no último dia, quando daria uma palestra sobre "Direito Penal na Constituição". Aproveitando a deixa de um autógrafo no meu exemplar de "Atividade Policial" e a simpatia do professor, expliquei superficialmente sobre o blog e da vontade que tinha de entrevistá-lo, pra trazer algo de novo para vocês. O mesmo se protificou de imediato, se pondo a disposição do blog.

Então, com vocês, Rogério Greco!


Edu: Professor, antes de mais nada, gostaria de agradecer enormemente ao senhor, por essa oportunidade maravilhosa de trazer algo novo para os leitores do "Perseguindo um sonho". O senhor é hoje considerado entre os concurseiros, um dos melhores professores de Direito Penal do país, sendo suas obras referências para a maioria dos candidatos da área policial. No entanto, poucos sabem como o senhor chegou até aqui. O senhor poderia nos falar um pouco de suas experiências com concursos? Suas frustrações (pensou em ser delegado, não é?), suas vitórias, seus estudos, etc.Profº Greco: Agradeço pela oportunidade e pelo convite. Comecei a pensar em prestar concursos públicos quando percebi que não estava conseguindo me manter financeiramente através da advocacia. O meu sonho era ser delegado de polícia. Quando iniciei meus estudos, percebi que não sabia absolutamente nada. Fiquei apavorado e ingressei em um curso preparatório para concursos. Fiquei mais desesperado ainda, pois não sabia nada do que os professores se referiam em sala de aula. Tinha perdido o hábito de estudar, e pedi a Deus que me revigorasse, e me desse um ânimo novo para que eu pudesse voltar a gostar de estudar. Deus mudou a minha sorte, e passei a me transformar em um “viciado”em estudos. Prestei alguns concursos durante essa jornada e percebi que, sem dedicação, seria impossível a minha aprovação.
Blog: Mesmo sem o cargo, concurseiros sofrem demais na preparação, como o senhor bem deve saber. Desilusões, dificuldades, problemas em casa, cansaço mental, etc. Em sua época de concurseiro, quais eram as do senhor?

Profº Greco: Aprendi que quando estamos prestando concursos, não devemos contar nada a ninguém, pois são pouquíssimas as pessoas que verdadeiramente querem o seu bem. As reprovações são naturais, mas as pessoas que estão fora do ambiente de concurso não entendem assim, e passam a estigmatizá-lo como sendo aquele que “não consegue passar em concursos”. Por isso, não conte nada a ninguém. Dentro de nossa própria casa também enfrentamos problemas, pois muitas vezes nossos pais, esposas, maridos etc. não compreendem o por quê de tanta dedicação, deixando de lado os demais afazeres. Muitas vezes temos que vender bens materiais para poder investir nos concursos (aqui incluídos os cursos preparatórios, livros etc), e quando o tempo vai passando e a nossa aprovação não chega, começa a sensação de desespero. Tudo isso é normal. Só não podemos sair da fila. Quem desistir, mesmo que por pouco tempo, já terá saído dessa fila, e voltará ao último lugar. Assim, persista, siga para o alvo, como diz o aposto Paulo.
Blog: O senhor dissertou em sua palestra sobre o dito "movimento Lei e Ordem", que representa um grupo de juristas que parece investir na "penalização" de diversos comportamentos sociais, como o senhor bem mencionou o "Beijo Lascivo". No entanto, muitos dos candidatos a área policial terminam por adotar uma postura bastante similar. O que o senhor pensa dessa postura? E sobre essa posição ir frontalmente contra os princípios de intervenção mínima e fragmentariedade?
Profº Greco: Na minha opinião, o movimento de lei e ordem é um erro estratégico, que superlota nossa Justiça, que, em virtude do excesso de trabalho, deixa de julgar aquilo que realmente importa, ou seja, os casos graves que envolvem, por exemplo, os crimes contra a administração pública, a exemplo da corrupção passiva.
Blog: Os candidatos à Polícia Federal, e a outras polícias também, costumam sentir uma familiaridade muito grande como Ministério Público. O que o senhor acha que falta para uma maior integração entre a polícia e MP no curso das investigações? Quais as sugestões do senhor para uma parceria mais aproveitável destes importantes órgãos no curso da investigação?
Profº Greco: A Justiça não é composta somente pelo Judiciário e pelo Ministério Público. A polícia tem um papel fundamental a cumprir e, sem ele, o trabalho do Ministério Público seria quase que impossível. O ideal seria que deixássemos as vaidades institucionais de lado e trabalhássemos juntos, em prol da sociedade, que ganharia muito com isso.
Blog: Como o senhor acha que deve ocorrer a fiscalização da PF pelo Ministério Público, de acordo com sua atribuição constitucional, porém sem que isso cause atritos com a PF?
Profº Greco: O sistema de freios e contrapesos é fundamental para a democracia. Todos os poderes devem ser submetidos a esse controle, evitando-se o autoritarismo e posições injustas. Isso não pode ser diferente com a Polícia. Mesmo que tenhamos nossos órgãos de corregedoria, o controle externo de qualquer instituição (Polícia, Magistratura, Ministério Público etc.) é importante para que a legalidade dos atos sejam mantidas. Isso não quer dizer ou mesmo importam em ingerência, pois o Ministério Público não tem o direito de interferir no trabalho realizado pela Polícia, mas sim exercer o controle externo dos por ela praticados.
Blog: A Segurança Pública é um dos maiores problemas do nosso país, sem dúvida. Não só isso, como nosso sistema penitenciário sofre graves problemas, passando de longe do seu (suposto) caráter resocializador . Temos uma excessão ou outra, mas no geral vemos poucas ações no sentido de melhorar as coisas. Como proeminente estudioso de sistemas prisionais, como o senhor encara essa deficiência nas ações do Estado?
Profº Greco: O problema todo se resume à falta de vontade política para resolvê-lo. Se houvesse o mínimo de vontade, o problema já teria sido solucionado.
Blog: Como o senhor vê o cargo de Delegado de Polícia Federal? Como uma carreira jurídica? O senhor pensa que o concurso público deveria se equiparar aos de magistratura, por exemplo, com prova oral e de títulos?
Profº Greco: Os concursos de delegado de polícia (federal e estadual) deveriam ser idênticos aos do Ministério Público e Magistratura, com as mesmas fases (escritas, oral e títulos). Da mesma forma, os delegados de polícia deveriam ter as mesmas garantias que são destinadas ao Ministério Público e a magistratura, a exemplo na inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos. Isso faria com que o trabalho do policial ficasse livre de ingerências políticas, que só atrapalham o bom andamento das investigações.
Blog: Essa pergunta não poderia faltar: como um especialista em Direito Penal, o senhor pensar que o nosso sistema penal, que termina por abangir a Legislação Especial e o Processo Penal, precisam de uma reforma? Ao que senhor atribuia à idéia do senso comum de que nosso sistema simplesmente "não funciona, e ainda protege bandido"?
Profº Greco: Na área penal só precisamos de pequenos ajustes, ou seja, nada de grandioso que importe em uma reforma completa do Código Penal. No que diz respeito ao processo penal, já existe um projeto sendo discutido, e trará grandes mudanças. Na minha opinião, temos que fazer com que a Justiça Penal não permita a procrastinação das decisões. Se não podemos deixar de observar, por um lado, os direitos e as garantias dos cidadãos, por outro, a demora da prestação jurisdicional, da resposta do Estado à infração penal praticada, torna a desacreditada a Justiça.
Blog: Em toda a sua carreira pública, lidando com o crime e a justiça, quais foram os momentos mais difíceis pelo qual o senhor já passou? Já chegou a perder a fé na justiça alguma vez?
Profº Greco: Nunca perdi a fé, mas já fiquei desestimulado em algumas situações, principalmente nas ocasiões em que não recebia apoio de outras instituições, para que pudéssemos realizar a Justiça.


Blog:
O senhor acredita que a população conseguirá recobrar fé no sistema penal? Se sim, como o senhor crê que será esse processo?
Profº Greco: A sociedade somente voltará a acreditar no sistema penal quando ele deixar de ser tão seletivo, ou seja, quando, efetivamente, ricos e pobres ocuparem o mesmo lugar nas celas, uma vez que tanto um quanto outro cometem crimes, e somente estes últimos são condenados e presos.


Blog:
Há algum tempo, o senhor fez um grande trabalho com o BOPE, da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Como o senhor enxerga a atuação dos "operacionais", sejam do BOPE-RJ, CORE-RJ ou COT-PF?
Profº Greco: Os policiais do BOPE, da CORE, do COT, enfim, as equipes que treinam e trabalham com operações especiais são, realmente, diferenciadas. O Brasil não fica devendo nada a nenhum outro país em termos de preparação de seus policiais de operações especiais, principalmente as que citei anteriormente. O que temos que fazer,com urgência, é valorizar nosso policial, munindo-o com todo o aparato necessário ao exercício de sua função, pagando-lhe de acordo com a importância do trabalho por ele realizado, que faz com que, basicamente todos os dias, coloque sua vida em risco, em benefício da nossa sociedade.


Blog:
Para encerrar, que mensagem o senhor deixa para todos os candidatos e, se Deus quiser, futuros policiais federais, leitores do "Perseguindo um sonho"?
Profº Greco: Não desistam do seu sonho. Continuem seguindo para o alvo. Completem a sua carreira. Mantenham a fé. Nunca se esqueçam que Deus tem sempre o melhor reservado pra nós. Fiquem na paz e até a posse no concurso (com direito à churrasco). Fiquem na paz.

Entrevista realizada por Eduardo Costa, em colaboração de Criska e Rodrigo Cruz.
Espero que tenham gostado, galera! O site do Profº Rogério Greco está disponível na nossa lista de parceiros, ou AQUI. Periodicamento o professor posta lá textos que abordam o Direito Penal e a Justiça, além de notas em acréscimo aos seus livros.


Um forte abraço a todos!
E rumo à Polícia Federal! (mais confiante que nunca)

11 comentários:

  1. Mto legal essa entrevista Edu. Vc mandou mto bem nas perguntas, gostei de ver.
    Epero mesmo poder ver igualdade no sistema judical desse país. Sei que no que depender de nós, a PF vai fazer sua parte.

    Abc!

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  2. Parabéns Eduardo.

    O blog está crescendo. Conteúdo de qualidade!

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  3. Muito bom !
    A entrevista serviu para sanar algumas duvidas e também como motivação para os que sonham um dia integrar a policia federal.
    Gostei muito .
    Méritos para o entrevistador e com certeza para Greco que foi fantastico mais uma vez

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  4. Bem diplomática a resposta dele para a minha pergunta sobre a fiscalização do MP...
    Ficou bem legal a entrevista.
    Beijão more!

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  5. Muito legal a entrevista!!!
    E em relação à opnião do Greco, sendo favorável ao reconhecimento dos deltas como carreira jurídica, devendo também, possuir garantias como inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos, é surpreendente, vindo de um promotor.
    Mas o Greco é o Greco, né...
    Ele até deu uma ponta desta opnião no "Atividade policial".
    Nota dez, Eduardo!

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  6. Ele até cita a maldita rivalidade de deltas e promotores. Grande perda de tempo essa...

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  7. Muito estimulante essa entrevista...
    pra quem tem esse sonho de ser PF ainda mais com uma pessoa tao bem qualificada Rogério Greco...
    Parabens Edu ...
    Mandou muito bem... que venham maiis entrevistas..!

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  8. Grande entrevista com uma grande personalidade Du! que venham mais por ai e que realmente nunca desistamos dos nossos sonhos!

    E rumo a PF!!

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  9. poxa muito massa mesmo... edu, vc deveria mandar essa entrevista para o blog saga policial... eles iriam gostar muito. vlw parabéns aew para todos

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  10. Super entrevista!!! Também gostei da resposta sobre o MP e Policia!!! Trabalho em conjunto é a solução pra essas divergências!!!

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