Desistir não é opção

E aí, amigos, tudo bem?

Eu ainda estou em pausa. Mas esses dias e hoje, especialmente, tenho refletido sobre algumas coisas e encarado algumas dificuldades com os quais acreditava não estar preparado para lidar. Isso tudo resultou num texto, escrito hoje, que apresento logo abaixo. Desculpem qualquer coisa, se ele é pessoal demais, NÃO É UM TEXTO MOTIVACIONAL (não em todo), mas um desabafo. No texto falo de mim, e a partir disso, espero ser útil para mais alguém.

Tenho todos os motivos do mundo pra desistir, e não o faço.

Sou novo demais, imaturo para o cargo de Agente de Polícia Federal, com meus 20 anos recém-concluídos. Minha carreira acadêmica (História) aponta para uma direção completamente diferente da de policial. Ser professor, com matrículas nas escolas municipais e estaduais, me garantiriam uma vida estável como servidor público e atuando numa área que goste. Me faria crer que os quase quatro anos de faculdade não foram à toa.

Ganho pouco e não tenho dinheiro pra livros e cursinhos caríssimos. Quem pagou meu cursinho foram meu pai, minha mãe e minha irmã JUNTOS, e parcelado, o que me dá a impressão que o sonho não é mais só meu, mas da minha família também. A responsabilidade é muita, e a cobrança também. Ter que lidar com “colegas” dizendo o tempo todo que acha “difícil” você conseguir não é mole. Mas ignoro a todos e agüento firme.

Sou acima do peso e tenho dificuldade pra emagrecer. Somado a isso, tenho uma série de problemas médicos que poderiam me eliminar no concurso. Meus joelhos ”tortos” (“genu valgum”) foram meu terror de reprovação por um bom tempo, e às vezes ainda me lembro disso. Além disso, minha pressão alta nos últimos dias, somada ao histórico de hipertensão de minha família, me faz ver o “obstáculo da vez”, o próximo problema que me tirará o sono. Mas ainda assim, continuo.

Não tenho tempo nenhum. Faculdade, cursinho, treino, auto-escola, estudo, blog, etc. São tantas coisas para fazer, tantos livros para ler, tantos problemas para resolver, tantos quilômetros para correr, que nem sei onde estou, se é que estou em algum lugar. Além disso, ainda tento ter uma vida social, sem abandonar meus amigos em suas visitas não-avisadas (que bagunçam mais meu horário programado), e os encontros com a “namorada”. Apesar de toda a dificuldade de ajustar horários e não ter tempo nem para mim mesmo, não penso em desistir.

Não chego nem perto dos índices exigidos no TAF. Também, atualmente, mal encontro tempo pra treinar. Estou engordando de novo e isso me deixa em pânico, mas não desisto.

Sou morador de comunidade carente e tenho que esconder meu sonho de tudo e todos. Tenho um Termo Circunstanciado por uma besteira, já arquivado (que por muitas semanas já me tirou o sono), e morro de medo da Investigação Social (apesar de ficha limpa), embora já tenha consultado todos os amigos policiais, advogados e consultores jurídicos e todos tenham me dito que isso não poderia me reprovar. O medo continua, mas mesmo assim não desisto.

Já tive muitos temores em minha jornada. Medo de esquecer quem eu sou e onde cresci, medo de não proteger quem preciso, medo de ficar só, medo do Exame Médico, medo da Investigação Social, medo da hipertensão, medo do Psicotécnico, medo de decepcionar as pessoas que amo, medo de decepcionar a mim mesmo, medo de estar fazendo a escolha errada... Parece que sempre procuro por algo para expiar minhas dores e culpar pelo meu possível fracasso. Medo do futuro, muito medo, e mesmo assim continuo adiante com essa ideia maluca de ser “polícia”.

Por que, apesar de todas essas adversidades, todos esses obstáculos, ainda não desisti? Sou cabeça dura demais? Sou obstinado demais? Não sei a hora de parar? Talvez essas linhas te façam crer que sou o “concurseiro” perfeito ou o “candidato ideal”, mas NÃO SOU! Sou completamente o oposto: sou paranóico, acho que tudo pode me reprovar, fico preocupado com qualquer coisa que ameace minimamente meu futuro no DPF. Porra, então por que simplesmente não me conformo e sigo em frente?!

Em todos os momentos que penso em desistir, quando penso que nada disso faz sentido, algo maior me impulsiona. Quando o medo e a dor rasgam meu peito, a certeza que é este o meu caminho é o que me levanta e aponta a direção. Não estou falando de Deus, nem sou religioso, mas há um versículo que um amigo sempre me recitava: “No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” João 16.33.

O brujo Dom Juan disse a Castaneda uma vez que “você deve manter em mente que um caminho não é mais do que um caminho; se achar que não deve segui-lo, não deve permanecer nele, sob nenhuma circunstância. (...) Mas sua decisão de continuar no caminho ou largá-lo deve ser isento de medo ou de ambição. (...) Esse caminho tem coração? Se tiver, o caminho é bom; se não tiver, não presta. Ambos os caminhos não conduzem a parte alguma; mas um tem coração e o outro não”.

Esse caminho tem coração? Sim, tem. Nunca duvidei. A Polícia Federal, e ser policial, é tudo o que penso, tudo que vivo, tudo o que sou. Apesar de tudo, não desisto. O que me leva a não desistir? Por que? Se já li e conversei com policiais que insistiram que poderia fazer coisas muito mais “úteis ao mundo”, que não há “glamour” na atividade policial e que quando você está na linha do tiro, tudo o que pensa é em NÃO SER policial. Por que não desistir?

Anseio pela resposta, mas não a tenho. Só sei que este é o meu caminho. Gostaria de dizer que é “o caminho que eu escolhi”, mas nem sei se escolhi mesmo. Escolhi a “missão” ou ela me escolheu? Não sei, só sei que nasci para isso.

Rumo à Polícia Federal