quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Entrevista EXCLUSIVA com um APF!


Demorou, mas estamos nós aqui de novo com outra entrevista!

Estamos num momento muito oportuno, onde o protocolo na PF no MPOG não para de avançar, hora de intensificar a preparação e se motivar ainda mais. Sendo assim, eu e meu amigo Rodrigo Cruz, eterno parceiro e colaborador do blog (na verdade, essa entrevista se deve bem mais a ele do que a mim), realizamos uma entrevista com um APF, que pediu para ter seu anonimato resguardado, mas que conta com 9 anos de "casa" e é bem atuante no ForumCW.

Assim sendo, espero que o conteúdo dessa entrevista seja valioso a todos, como está sendo para mim. Muitíssimo obrigado ao amigo APF, pela colaboração e pela inspiração. Nossa hora está para chegar.


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Apresentação do entrevistado, por ele mesmo:
APF: "Antes de responder às perguntas, gostaria de apresentar um breve histórico para situar meu pensamento em relação a ser um 'concurseiro'. 

Atualmente tenho 37 anos, sou formado em Administração de Empresas pela UEL – Universidade Estadual de Londrina. Ingressei no DPF no concurso de 2002, tomando posse em janeiro de 2003 como Escrivão de Polícia Federal na cidade de Guaíra/PR, onde fiquei até 2004, quando fui removido para Londrina/PR. Anteriormente já havia sido aprovado para Agente de Polícia Federal no concurso de 2000, tendo sido reprovado no TAF, mais especificamente na execução das barras fixas. Em 2004, fui novamente aprovado para o cargo de APF (que sempre foi o cargo almejado), tanto no Nacional quanto no Regional para o Mato Grosso do Sul. Após dois cursos de formação no ano de 2005, tomei posse como APF em 2006 na cidade de Brasília/DF onde permaneci até o ano de 2007, quando fiz uma permuta para Londrina/PR, onde trabalho atualmente. Durante este tempo participei de vários trabalhos em diversas cidades do país com duração variando de um simples 'bate e volta' até trabalhos de mais de 90 dias. Essa interação com outras localidades foi muito importante e interessante para conhecer um pouco da realidade de cada lotação e perceber quantos Departamentos de Polícia Federal existem dentro do próprio DPF."


Blog: Se você tivesse que dar um conselho em relação aos estudos a quem pretende encarar a prova de APF (objetiva e/ou discursiva), qual seria? (com base na sua própria experiência, erros e acertos)
APF: "Tenho origem em uma família humilde e sempre estudei em escolas públicas. Apesar de considerar que o sistema educacional no Brasil está muito aquém do ideal, não é verdade que somente aqueles que estudam ou sempre estudaram em boas escolas particulares tem reais chances de ingressar nos mais concorridos cargos públicos. 

Sempre fui um bom aluno e essa base de estudo até o ensino médio, por mais deficitária que tenha sido, é o que fez a grande diferença em facilitar meus estudos futuros. Sei que isso é um conselho a ser aplicado aos nossos filhos, mas nunca é tarde para voltar as atenções para essa base, em especial Português e Matemática (quando a área de interesse exigir). 


Para quem já estuda há algum tempo e tem um conhecimento já solidificado, isto que estou falando pode parecer meio sem propósito, mas para quem ainda está pensando em ingressar na vida de concurseiro eu aconselharia tentar solidificar primeiramente os conhecimentos nestas duas disciplinas, principalmente o Português. E eu digo massificar a ponto de saber praticamente tudo o que existe em uma Gramática. O Português é sem sombra de dúvidas a parte mais importante de um estudo e também a que mais derruba candidatos. 


Não é possível alguém pensar em começar a estudar as disciplinas legais (mesmo para quem é formado ou estuda Direito) sem antes dominar o nosso próprio idioma. Com este domínio você reduzirá em muito o tempo de estudo de qualquer disciplina, uma vez que rapidamente compreenderá o texto lido, não necessitando de tantas releituras. 


Outro ponto importante deste domínio reside na interpretação do que se está lendo a ponto de identificar o ponto exato que o examinador quis tocar, evitando cair no erro de sempre querer encontrar “pelo em ovo” nas questões, principalmente em provas estilo CESPE. 


Outro ponto é não parar de estudar nunca, nem que seja um pouquinho por semana, independente de ter concurso em vista ou não. Desde que ingressei na faculdade sempre tive o hábito de reler e refazer exercícios de disciplinas que já não faziam mais parte da minha grade curricular, como Português. Com essa prática eu não necessitava estudar muito de cada matéria, uma vez que eu não deixava que ela caísse por completo no esquecimento. E a resolução de exercícios é um aliado muito importante na manutenção do conhecimento adquirido. Desta forma minha preparação mais acirrada era sempre de poucos meses antes das provas, uma vez que nunca parei meus estudos por completo. 


Desde meus 18 anos venho prestando diversos concursos das mais variadas áreas, desde Auxiliar de Odontologia (não tinha o menor conhecimento sobre as disciplinas), passando por CEF e BB, até agente penitenciário (cargo no qual trabalhei por três anos). Não tenho uma estatística do meu desempenho, mas com certeza reprovei em mais da metade, e do restante, mesmo passando em alguns acabei ficando fora das vagas. Apesar de ter poucas convocações (Agente Penitenciário/PR, CEF/PR, Banco do Brasil/PR, APF e EPF), consegui me manter e chegar ao meu objetivo até o momento, que é APF. Isso demonstra que não sou nenhum sabe tudo mas sim um concurseiro esforçado que nunca deixou de estudar e correr atrás dos objetivos. 


Resumindo então tudo o que falei, domine o Português e não deixe para estudar somente quando tiver notícia de que haverá um determinado concurso."

Blog: Falando um pouco das outras etapas do concurso (psicotécnico, TAF e exames médicos), alguma consideração específica? Como foi a sua preparação para cada uma dessas fases, em especial TAF? Você teve “medo” de alguma delas?

APF:
"Tive receio sim algumas vezes, em especial no caso do psicotécnico. Logo após completar 20 anos fui aprovado para o cargo de Agepen no Paraná, ocasião em que fui reprovado no psicotécnico. Aquilo me frustrou sobremaneira, uma vez que já havia feito outros testes parecidos antes e nunca tive nenhum problema. Nunca pensei que eu tivesse algum problema, mas aquilo me deixou encucado por um bom tempo, querendo identificar onde eu havia errado. 

Aos 23 anos resolvi fazer novamente este concurso e fui aprovado novamente. Quando chegou na etapa do psicotécnico obviamente eu estava com medo de ter um resultado negativo outra vez. Felizmente não tive problemas, mas aí ficou a questão do quê eu mudei em três anos para agora estar apto ao cargo. A conclusão que cheguei é que o problema estava no método de aplicação ou em quem aplicou o teste. Por isso que até hoje tenho ressalvas quanto a este tipo de avaliação. 


Em relação aos exames médicos, nunca tive receio de nada, apesar de ter um histórico familiar de diabetes e pressão alta. Como sempre pratiquei esportes e procurei cuidar na maior parte do tempo da minha alimentação, nunca tive problemas com estes exames. 


Já o TAF acabou me pregando uma peça no concurso de APF em 2000. Justamente pro ser um praticante de esportes (que é bem diferente de atleta) acabei negligenciando na minha preparação física, além de alguns problemas pessoais na época. O resultado foi que cheguei a fazer 6 barras fixas (na época apenas pronadas), mas o fiscal considerou que não as executei completamente, considerando apenas 4. Nas outras tentativas não passei de 4. Reprovação numa fase que estava certo da aprovação e um grande aprendizado para o futuro. 


Nos próximos concursos, EPF em 2002 e APF em 2004, iniciei meus preparativos bem cedo, em especial a natação que sempre foi meu fraco, e consegui ingressar no DPF onde atualmente ocupo o cargo que desejava e que ainda atende às minhas expectativas profissionais.


Com os atuais critérios para o TAF, novamente teria problemas com a natação e possivelmente ficaria no limite do tempo, por isso seria necessário treinar por um período maior. 


A dica sobre o TAF é tentar se manter o mais ativo possível, visando manter um condicionamento físico mínimo, pois assim o sacrifício e as dificuldades para chegar aos índices do TAF serão menores. Sei que muita gente diz que é difícil conciliar trabalhos, estudos e treinamentos. Tenho plena consciência disso, pois também passei pela mesma situação. Por este motivo que o estudo constante e a atividade física diária (uma caminhada que seja) demandarão menos horas diárias de estudo do que se a preparação começar somente com a iminência de um concurso."


Blog: Esta não poderia faltar: como foi viver a experiência de estar na ANP? Orgulho de passar pelo portão, relacionamento com colegas, clima de competição, aulas, formatura, conselhos... O que você gostaria de deixar registrado sobre esta etapa, já que é uma das que mais ansiamos viver. 

APF: Única, em cada uma das três... 

Conforme já falei anteriormente, passei pela ANP por três: em 2002 por dois meses e meio para o curso de Escrivão; em 2005 no primeiro semestre por quatro meses e meio para Agente Regional/MS (fui lotado em Ponta Porã, mas nem cheguei a aparecer na delegacia); e mais quatro meses e meio no segundo semestre de 2005 para Agente Nacional.
 

Posso afirmar que cada uma delas teve as suas particularidades e as vivenciei de uma forma totalmente diferente, como se tivessem sido feitas por três pessoas distintas. Por mais que eu diga aqui quais foram as minhas sensações nestes cursos de formação elas serão totalmente diferentes da visão daqueles que passaram pelos mesmos períodos que eu e daqueles que estarão lá no futuro. E nem é pelo fato de que na minha época não era semi-internato como agora, mas sim porque em cada um delas você é realmente uma pessoa diferente. Mas uma coisa eu posso afirmar com certeza: A experiência da ANP é única, seja ela boa ou ruim.
 

Mas para seguir o roteiro das perguntas, farei um breve resumo de cada uma delas.
Escrivão – 2002 – A academia foi realizada entre setembro e dezembro daquele ano e tinha cursos de agente e escrivão somente. A chegada na ANP pela primeira vez é realmente emocionante. A tradicional foto com a placa “Entrada para a realização de um sonho” é obrigatória. Já no primeiro dia você quer conhecer cada pedaço da ANP (até onde é permitido ir). Isso sem falar na vista que temos de Brasília da janela dos alojamentos. É de entusiasmar qualquer recém chegado à nossa capital.
 

Neste concurso o que valia para a escolha de vagas era a nota da primeira etapa, o que fez com que a competição entre os alunos fosse menor, onde o estudo era basicamente para tirar o mínimo. Como não havia tanta competição e tanta cobrança as amizades acabaram sendo mais fáceis de fazer e a diversão, com passeios pela cidade e em churrascos nos finais de semana eram bem comuns. Devido ao curso ser mais curto do que o atual, não havia tantas aulas operacionais para os escrivães, mas ainda assim a quantidade de tiros efetuados foi bem grande, participamos de exercícios de vigilância na cidade (ponto alto desta disciplina), entre outras atividades bem interessantes, como a participação em uma barreira real na rodovia que liga Sobradinho ao Plano Piloto (este tipo de atividade não existe mais devido a alguns incidentes que ocorreram em turmas posteriores). Fiz bons amigos desta turma mesmo com o tempo reduzido de curso.
 

Agente Regional – 2005 – Academia realizada no primeiro semestre com a duração de quatro meses e meio. Por incrível que pareça eu estava um pouco ansioso com esta turma, mesmo já tendo passado por outro curso antes. Não sei se era pelo fato de que eu estava fazendo para o cargo realmente desejado ou se seria por apreensão quanto às cobranças em relação à minha pessoa, uma vez que já era da casa. No final das contas tinha um outro escrivão na minha turma, o que ajudou a dividir um pouco as “atenções”.
 

Tirando essa certa apreensão, o fato de já ser da casa e já saber quais os procedimentos e os macetes para levar o curso na boa ajudaram muito. Mesmo com a grande alteração na grade de curso devido ao aumento da carga horária foi tudo muito tranquilo e realmente “curti” muito esta turma. Fiz verdadeiros amigos com quem converso sempre que possível e em cada local onde reencontro um destes colegas de turma é sempre uma grande alegria. Apesar de neste curso a nota da ANP definir a ordem de escolha das vagas eu acabei não me aplicando tanto quanto deveria, pois já sabia que estaria na próxima turma para o concurso nacional.
Mesmo sem aquele “quê” de novidade, este curso também teve algumas peculiaridades na sua estrutura, mas nada muito diferente da política adotada anteriormente em 2002. E mesmo agora com o sistema de semi-internato a doutrina e a disciplina dentro da ANP não muda muito.
 

Agente Nacional – 2005 – Academia realizada no segundo semestre. Vocês já devem estar imaginando que esta eu tirei de letra e fiquei em primeiro lugar. Infelizmente não foi assim. Terminei em 15º, posição muito boa por sinal caso não fosse algumas posições após o fim das vagas para a minha cidade natal. Não fui melhor na classificação por dois motivos:
 

Primeiro que havia vários outros alunos na mesma situação que a minha (fizeram o regional no 1º semestre e voltaram para o nacional). Segundo que por mais que alguém “goste” realmente da ANP, do curso, de Brasília e tudo mais (que não chegou a ser o meu caso propriamente dito) chega uma hora que os nervos estão à flor da pele. E nesta segunda turma do ano eu já estava bem estressado por estar longe da família e pela incerteza sobre a minha classificação e futura lotação. Chegou a um ponto do curso onde consegui discutir até com meu orientador de turma, onde questionei alguns procedimentos adotas pela orientação do curso. Disse a ele que “se eu que estou na 3ª ANP não entendo o que vocês pedem, o que dirá quem está pela 1ª vez”. Claro que na hora levei uma bela duma chamada, mas felizmente depois deram razão à minha argumentação e mudaram algumas coisas em relação ao que eu estava questionando.
 

Infelizmente não consegui criar muitos laços de amizades, não por culpa dos colegas que estiveram lá comigo, mas sim pelo meu estado de espírito naquele curso.
 

Estas foram as minhas impressões pessoais de cada curso. E como puderam perceber, eu vivi cada uma delas de uma forma totalmente diferente, assim como cada um de vocês irá viver a sua própria e exclusiva ANP.
 

Algumas dicas e informações gerais sobre o curso:
Defesa Pessoal – Os professores sempre vão pedir mais energia nas aulas e exercícios. Façam isso dentro de um limite de segurança onde não corram o risco de se machucarem ou de machucarem alguém. Infelizmente as notas serão mais por boa vontade com os alunos do que pela execução propriamente dita. Dois exemplos que vivenciei reforçam essa orientação: Na primeira turma de 2005 acabei quebrando o pé de um colega de sala quando ele aplicou um golpe com “toda essa energia”, me jogando ao alto, mas esquecendo de tirar o pé dele debaixo de onde eu cairia. Felizmente o encontrei no semestre seguinte e ele se formou naquele curso. 


Na segunda turma de 2005, um vizinho de alojamento, faixa preta de Tae-Kwon-Dô, foi executar um chute na prova com “toda a energia” e rompeu os ligamentos do joelho. Ao contrário do primeiro exemplo, aqui não podemos falar em falta de conhecimento da arte, pois era faixa preta em uma modalidade que usa basicamente o chute. O que houve foi excesso de vontade. Por isso, muito cuidado com essa disciplina. E para quem pensa em fazer algo antes de ir para a ANP, o conselho que dou é que faça apenas para ter conhecimentos básicos de rolamentos, quedas e outras situações que evitem contusões no curso, pois lá não aplicam uma arte marcial específica, fazendo uma mistura de um pouco de tudo.
Tiro – Muita gente se preocupa com isso e quer fazer aulas antes da ANP. Não precisa, pois vocês vão atirar muito e fazer várias repetições antes da primeira prova. Além disso, quem fizer um curso antes pode adquirir vícios que venham a atrapalhar no curso. A exceção que faço é somente para alguém que tenha pavor (pânico mesmo) e queira acabar com isso antes de ir para lá. Fora isso, é jogar dinheiro fora (e dinheiro vai que nem água no concurso do DPF). 


Clima de competição – Sempre há um ou outro que exagera, mas o clima na ANP acaba sendo mais de solidariedade do que de enfrentamento. As amizades que você vai acabar criando por lá serão na maior parte sinceras e perdurarão por todo o tempo em que estiverem no DPF, mesmo que fiquem anos sem se encontrar no futuro. Falo isso pelos meus 9 anos de casa e pelo relacionamento de colegas mais antigos que constantemente encontram colegas de turma em outras lotações. 


Diversão e Formatura – Sempre que possível participem de churrascos, confraternizações e passeios pelo Plano Piloto e pelo entorno. Isso evita que o stress acabe atrapalhando seu desempenho durante o curso, como aconteceu comigo na última turma. Apesar das amizades, apesar da novidade e do desejo de ser PF, chega um ponto que o curso acaba te sugando tanto que você precisa de uma válvula de escape para poder seguir em frente com o mesmo ímpeto. Assim como na preparação para o concurso, a diversão é parte essencial para manter um bom desempenho. Só não deve jogar futebol ou outro esporte de contato, pois o risco de lesão já não compensa. 


E a formatura (no caso o baile) deve ser aproveitada por todos, mesmo sendo um investimento caro para alguns. É o momento de consagração onde todos os seus amigos atuais e futuros estarão finalmente comemorando (ou chorando) o fim do curso. Por pior que tenha se sentido durante o curso, o baile de formatura será algo que marcará o encerramento desta etapa da sua vida, mesmo que você resolva não tomar posse no futuro. Eu diria que quem passou pela ANP e não participou da própria formatura não pode dizer que fez uma ANP por inteiro. Eu participei de todas dos meus três cursos e de mais outras três de turmas futuras enquanto fui lotado em Brasília. 


Hierarquia e Disciplina – Esse será o mantra que todos irão ouvir durante o curso. Alguns levarão ao pé da letra, outros não estarão nem aí para isso, enquanto outros vira e mexe tentarão fugir a esta regra. Independente de qual seja o seu pensamento sobre essas duas palavras e a sua aplicabilidade no curso e no DPF, o melhor a fazer é obedecer (ou ao menos “fingir”) esta regra, pois isso evitará muitas dores de cabeça durante o curso. O que ninguém pode esquecer que enquanto estiver na ANP você ainda não está dentro do DPF. Depois que ingressar, cada um que siga os seus preceitos e assuma as responsabilidades, mas durante o curso vale o esforço para evitar problemas.




Blog: Uma pergunta que sempre me faço: após a posse, já na lotação de fronteira, como foi a recepção dada pelos colegas? Na primeira Operação, bateu insegurança? Como foi? O famoso espírito de corpo é realmente tão forte nas fronteiras?

APF:
"Minha primeira lotação no DPF foi em Guaíra, como EPF. A recepção não poderia ser melhor. Um pessoal muito empolgado com o trabalho, tanto antigões quanto novinhos e um clima bem amistoso entre todos. É claro que sempre tem um ou outro problema de relacionamento, mas via de regra sempre foi uma ótima lotação em termos de ambiente de trabalho. Pode-se dizer que em Guaíra o espírito de corpo era forte, e acredito que continue sendo (ao menos aparenta pelo contato que faço alguns colegas). Acredito que nas demais fronteiras o clima seja o mesmo. É claro que há situações de stress e problemas interpessoais, mas a regra é formar uma verdadeira família entre os colegas de trabalho. 

Sobre a primeira operação, ela demorou um pouco para eu participar. Como meu primeiro cargo foi EPF e em Guaíra havia apenas um lotado até a minha chegada e de mais outro EPF, acabamos por ficar um bom tempo presos exclusivamente ao cartório, pois tinha muita coisa para atualizar. Isso sem falar que tinha flagrante sempre (fiz um no meu primeiro dia), o que acabava nos prendendo à papelada. Participei da minha primeira barreira com um ou dois meses de casa (não por falta de vontade de ter ido antes), tempo suficiente para já ter visto como o trabalho funcionava e ter conversado bastante com os colegas. Então não tive tanta apreensão quanto alguém recém-chegado, mas teve aquele frio na barriga na hora da primeira abordagem. Com o passar do tempo você acaba controlando as reações, mas o receio (não o medo ou insegurança) sempre vai existir, pois é ele que fará com que você esteja sempre alerta para qualquer perigo."


Blog: E o serviço policial cotidiano? Foi de fácil assimilação ou é preciso tempo para que se internalize o trabalho?

APF:
"Isso vai depender muito do setor e da lotação onde você trabalha, além da experiência profissional de cada pessoa. Após tomar posse em Brasília, fiquei dois meses no plantão e depois fui transferido para o NO de uma delegacia. Trabalho basicamente de localização e intimação (que não é fácil como muitos pensam, e que apresenta riscos sim). Fiquei neste setor por um ano, período que foi importante para adquirir experiência de rua e no trato com todo tipo de pessoa, desde procurados por tráfico até velhinhas que se aposentaram com documentos falsos. Cada contato exige uma postura e um procedimento diferente, e isso você vai adquirindo com o tempo e observando colegas mais antigos trabalhando (não que eles estejam sempre certos, mas te mostram o que fazer e o que não fazer em cada situação). E durante o tempo que trabalhei neste setor sempre participei de viagem para operações em outros estados, além de trabalhos operacionais em Brasília, que iam desde batidas em boates contra seguranças irregulares (na maioria policiais fazendo bico) até a escolta de Hildebrando Paschoal e seu grupo em um depoimento que durou vários dias. Cada um vai assimilando o trabalho no seu tempo. Como a atividade policial é imprevisível, pode ser que no primeiro dia você vivencie uma situação de confronto que a maioria dos policiais do DPF nunca enfrentarão em toda a sua carreira. O principal é que cada um esteja pronto física, psicológica e tecnicamente para enfrentar estas situações adversas. Atualmente trabalho na área de análise (DRE) que resume tudo que eu esperava do trabalho policial, reunindo trabalho investigativo e operacional. É um trabalho maçante em grande parte do tempo e que acaba sacrificando muito a família e até mesmo seu humor, pois perdemos muitas noites de sono, feriados e finais de semana, isso sem falar em festas de família, mas extremamente gratificante quando alcançamos um resultado satisfatório. Um dia de trabalho bem sucedido compensa semanas, e até meses, de espera e falta de resultados."

Blog: Agora, pensando nos candidatos que tem filhos, esposas, ou mesmo os que pretendem casar e levar a família. Sei que cada lotação é um caso, mas pelas suas vivências, é tranqüilo levar os familiares? O que você teria a dizer sobre isso?
APF: "Aquele que pretende ingressar no DPF, independente do cargo e da lotação, e não ter riscos pessoais ou familiares deve realmente pensar duas vezes antes de ingressar. A grande maioria dos policiais nunca passará por qualquer situação de risco, isto é fato. No entanto se ocorrer uma única situação que seja, tanto ele quanto a família estará em risco pelo simples fato de estar portando a carteira funcional (e se ingressou no DPF deve portá-la sempre, ao menos deveria). E eu digo que o maior risco que corremos é justamente na hora de folga, onde a maioria está desprevenida ou desatenta e em número menor que os bandidos. É claro que há exemplos recentes de confrontos fatais de policiais federais, mas a maioria dos óbitos de policiais da ativa ocorrem em acidentes de trânsito ou em ocorrências em horário de folga.
 

Se compararmos o trabalho da PF com a PM, a PRF e a PC é claro que chegaremos à conclusão que o da PF apresenta baixo risco (exceto alguns setores operacionais), mas isso não significa que este risco não exista. O que o candidato ao DPF tem que lembrar é que todos os cargos da carreira policial trarão um risco inerente à função. Portanto todos devem estar sempre preparados para isso, mesmo que ele nunca venha a existir efetivamente. 

Colocadas estas questões eu estou dizendo que o DPF não é lugar para quem tem filhos? Certamente não. A maioria dos meus colegas de trabalho são casados e quase todos com filhos. Eu tenho uma filha de 10 meses. O trabalho no DPF é uma excelente profissão, com um bom salário e com estabilidade, onde você tem a segurança necessária para criar sua família, se não com luxo, ao menos com o conforto necessário. É claro que você terá maiores precauções no seu dia a dia dentro e fora do trabalho, mas ainda assim é totalmente viável manter uma família sendo do DPF."


Blog: Para fechar, após todo este tempo de casa, a experiência está correspondendo às suas expectativas? O seu sonho foi realizado?
APF: "Há problemas no DPF e todos já sabem quais são, conforme se verifica nos debates dos fóruns existentes. Apesar disso, eu vejo estes problemas numa dimensão menor do que fazem transparecer. Talvez eu tenha esta visão justamente por estar desempenhando a função que eu sempre quis exercer e ela, ainda, estar atendendo à todas as minhas expectativas pessoais, funcionais e financeiras. Poderia ser melhor e mais valorizado do que é hoje? Poderia, com certeza, mas ainda assim me sinto satisfeito com o que faço."


Blog: Se você tivesse que dar um conselho, algo importante para a atividade policial, que os aspirantes aos quadros do DPF devem ter em mente desde ja, qual seria?
APF: "Venha para o DPF com vontade de trabalhar e de fazer uma sociedade melhor no futuro. Isso serve tanto para aqueles que vem para ficar quanto para aqueles que estão somente de passagem. Não penso que todos aqueles que ingressam tenham que ficar aqui um tempo mínimo, mas que esse tempo seja de grande valia tanto para quem ingressa quanto para a sociedade que necessita do seu trabalho. 

E após o ingresso, respeitam o conhecimento daqueles que estão no órgão. Não digo somente em relação aos mais velhos de casa, mas a todos aqueles que trazem os mais variados conhecimentos e experiências de vida, pois tudo isso é importante para o nosso trabalho. Ninguém tem o conhecimento absoluto de tudo e a nossa atividade é muito dinâmica, sendo necessário abranger uma gama enorme de conhecimentos para combater a criminalidade de forma eficiente. E isso somente é possível com a união de esforços entre os vários servidores do órgão com seus conhecimentos e suas vivências únicas.

Espero que estas opiniões, que representam a minha visão de DPF, tenham alguma valia para quem deseja ingressar no órgão e que todos tenha muito sucesso na busca por uma vaga no concurso.
 

Abraço a todos."
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Com o coração em chamas e a garra para lutar aviada novamente, continuamos PERSEGUINDO UM SONHO! 

Um forte abraço a todos!
Rumo à Polícia Federal! 

Eduardo Costa e Rodrigo Cruz

12 comentários:

  1. acabei de imprimir para depois do almoço comer essa entrevista como sobremesa....
    nesses tempos é preciso inspiração sim... vlw aew

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  2. Gostei! Discernimento do cara cresceu com a experiência e o cara demonstrou e bem a parte boa e a parte salgada!
    quem estiver em sampa e quiser montar um G.E. ... estou afim.

    Saúde!!!

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  3. Du e companheiro Rodrigo

    Estaria mais emocionado do que estou agora se não estivesse no meu trabalho... rs
    Que entrevista espetacular, e que me deu mais ânimo ainda para enfrentar as barreiras de se passar num concurso tão concorrido como este.
    Que essa entrevista possa vir a dar forças para muitos outros companheiros também, que seriam ótimos policiais, mas que por um motivo ou por outro, se encontram desanimados.

    Força e garra a todos. O nosso dia se aproxima...

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  4. Entrevista excelente! Me identifiquei muito com o camarada, pois eu já estava cansado de só ver agentes e outros servidores reclamando da PF..Segurança Pública etc etc..tudo bem que não é mil maravilhas, mas fazer o quê, né? Já sei, trabalhar! Não critico a conduta de reclamar, e sim a de SÓ reclamar..afinal de contas toda moeda tem dois lados..hehehehe.

    Finalmente consegui postar por aqui, sempre leio os textos, mas quando tento comentar rolam uns erros e daí desisto!

    Obrigado por se esforçar tanto por mim como pelos outros leitores, Edu (e ao outro companheiro que ajudou também)! É muito bom contar com pessoas como vocês para nos motivarem nessa árdua batalha até a posse!

    Forte abraço!!

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  5. Galera, o APF abriu uma rodada de perguntas. Se vocês se interessarem e quiserem, deixem a pergunta aqui que mando para ele. Só não esperem muita rapidez nas respostas..., o cara tem trabalho sério a fazer.
    Abçs
    ;)

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  6. Porra, esqueci de abrir pra perguntas... ahushaushausas

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  7. Caramba! Esta tal contabilidade é o "ó do borogodó".

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  8. Sou aspirante APF de Brasilia DF e desde muito tempo sonho no dia de chegar a ANP,e lendo entrevistas como essa fico muito mais animado e com vontade de realizar este sonho.Rumo ao DPF!!!!

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