Marinha do Brasil - Corpo de Fuzileiros Navais
Engraçado como são as coisas. Hoje, depois da última semana de caos e guerra no Rio, vejo muita gente falando do "circo que foi montado pelo Estado", sobre a "hipocrisia da população", que "nada disso vai acabar", que é "só pra inglês vê", que o povo é "burro", e está sendo "bestializado pela Globo", etc., etc., etc...
Comentei com alguns amigos que não sabia o que fazer com o meu ódio. Ódio contra o Estado, que deixou a merda chegar aonde chegou; ódio contra a população, que agora banca de vítima, quando muitas vezes era conivente com a criminalidade; ódio contra os "policiólogos" e "intelectualóides", que se acham super especialistas e críticos; ódio especial contra os bandidos (esses, nem preciso dizer porquê). Isso tudo me irrita de uma forma que nem consigo expressar, e justamente por isso, mantenho-me paradoxalmente indiferente.
Fatos são fatos. Vamos lá, então:
- A responsabilidade é do Estado por deixar onde chegou: verdade indiscutível. Sérgio Cabral, nosso "digníssimo" governador, posa de grande salvador do Rio de Janeiro, quando o próprio foi por diversas vezes conivente com o estado de terror permanente da cidade. Foi preciso esperar quatro anos, garantir sua reeleição e ter uam onda de atentados para que se fizesse algo realmente bom, como o que foi feito PELOS HOMENS DAS FORÇAS DE SEGURANÇA (sim, porque apesar de mandar, o senhor provavelmente só levantou a bunda da cadeira pra aberta a mão de algum político e futuro aliado, como a Dilma);
- As coisas não vão mudar: discordo. Se não exergarmos ações como essa, inéditas, com diversas forças de seguranças de várias esferas de poder atuando em conjunto, como um começo, um princípio, ou o anúncio de um novo capítulo da história do Rio, então o que se esperar como "um novo começo"? Que uma bomba nuclear exploda e a cidade tenha que ser reconstruída?
- O Estado sai como herói de uma coisa que ele próprio criou: verdade. O povo vai, de fato, achar que nosso governador é o máximo, quando na verdade, como disse, foi parte dos "30 anos de omissão do Poder Público", a qual ele tanto declara;
- A polícia continua corrupta, e povo agora vai esquecer disso e só vê-los como heróis: vê-los como heróis é muito justo. Provavelmente, também esquecerão dos que difamam as corporações, os corruptos. Mas o serviço prestado pela polícia nesses dias é de uma eficiência inquestionável! Ou não? Nunca antes as polícias do Estado atuaram tão bem, em tamanha harmonia, e com tamanha eficiência;
A atuação das forças de segurança merecem especial destaque. Minhas conglatulações e eterna gratidão aos policiais federais (COT, GPI's e outros agentes), fuzileiros navais da Marinha e PQD's do Exército. Sem vocês, seria impossível. À PM, Polícia Civil, BOPE e CORE, nossos homens, toda a glória. Repito incessantemente: HERÓIS, HERÓIS, HERÓIS! Contra o brado de protesto dos "policiólogos" e "intelectualóides", muitos dos quais meus próprios amigos e professores de faculdade, que afirmam de uma hora pra outra a população passou a amar a polícia, eu me levanto. Há policiais corruptos? Claro! Mas questione se não foi essa mesma "polícia corrupta" que, com a sua presença numa esquina de um bairro qualquer, impediu que fosse o SEU carro o queimado. O que se precisa fazer é uma "limpeza" nas corporações, mas que o trabalho policial foi incrível, não há como negar. Verdadeiros heróis, guardiões do povo.
Haverá, e já está havendo, uma mudança. Um amigo meu, grande amigo, chamou minha atenção sobre o fato de ter aviso uma "desmoralização do povo". Como assim? Simples: o povo, que antes gritava aos quatros ventos sobre a "polícia covarde" que tinha, agora engole em seco a excelente atuação policial dos últimos dias. Mais do que isso, aplaude. Denuncia também: o número de denúncia dos próprios moradores foi impressionante, nunca clara demonstração de confiança na polícia e no Poder Público. E isso é um dos principais passo para a mudança.
Outro sinal de mudança é a experiência da atuação de tropas estaduais e federais, JUNTAS, vencerem o tráfico. Nas palavras do querido Rodrigo Pimentel: "Esse modelo, de integração de forças, parece invencível". Isso só mostra que, quando o Estado QUER (por conveniência política ou não), ele consegue sim, vencer. Além disso, graças a super-veiculação midiática, o Estado se vê extremamente pressionado a tomar certas ações, como o próprio Ministro da Justiça demonstrou, ao requerir o isolamento dos chefes do tráfico em Catanduvas, e a OAB, ao processar administrativamente os advogados acusados de conivência e cumplicidade com o crime organizado.
Claro que nem tudo são flores. Minha cabeça dói só de lembrar o que será feito agora com os diversos presos do Complexo do Alemão nesse domingo: levado a julgamento, condenado a incontáveis anos de prisão, vai para o presídio ser sustentado pelo dinheiro público (NOSSO dinheiro), recebe uma série de benefícios, saí no próximo Natal ou em regime semi-aberto, e nunca mais volta a cadeia até a próxima megaoperação. Mais um marginal na rua em alguns anos.
Evidente que o nosso sistema prisional não recupera ninguém, e isso é um ponto a ser mudado. Bem como as nossas leis penais utópicas, que confia na "boa fé" do meliante, ao vê-lo sair pela porta de frente do presídio para jantar com a família e nunca mais voltar. Há muito a ser pensado, e muito a ser repensando também.
Tenho a mais plena convicção de que as críticas ácidas a atuação policial e do Estado continuarão, e devem continuar. É assim, debatendo, discutindo opiniões, que se tem um Estado Democrático de Direito. No entanto, peço aos mesmos críticos que, ao invés de só criticar, que apresentem propostas de mudanças e que hajam de acordo. Não adianta o povinho de Ciências Humanas barcar especialista em Segurança Pública fumando seu baseadinho e alegando que "não faz mal". Além disso, um outro grande inimigo a ser vencido é o ceticismo de um grande grupo da sociedade, criados ante a desconfiança dos anos e anos de corrupção e conivência do Estado como o crime organizado. Compreensível suas posições, embora suas críticas e opiniões continuarão a ser iss, somente crença de que as coisas funcionem assim.
Como disse antes, prefiro enxergar isso como um indício de dias melhores do que como um "circo pra inglês vê", como já disseram alguns. Poder bater no peito e se orgulhar dos homens com a qual você pode contar para te proteger é bom demais. Estão, TODOS, de parabéns. Foram vocês, e SÓ VOCÊS, os heróis do Rio. Para quem disse que era apenas uma resposta política a um "povo bestializado", que é "política do pão e circo", permaneçam com suas eternas críticas. Mas procure alguém do Complexo do Alemão depois, e pergunte-lhe a real importância do que foi feito ali.
E rumo à Polícia Federal!