sábado, 28 de agosto de 2010

Resposta: "E quando o que nos resta é o sonho?"

"Você prefere ser policial em vez de ser advogada"? - foram as palavras do meu pai (e diga-se de passagem, palavras muito inconformadas, indignadas e até de certa forma revoltadas) quando soube que, ao contrário de suas expectativas, eu não havia desistido de ser delegada federal quando passei no exame da OAB.

Logo em seguida despencou sobre minha cabeça uma chuva torrencial de conselhos vindos do resto da família (que preferia para mim uma profissão menos exótica e mais segura), em que se distinguiam perfeitamente as palavras "perigo", "corrupção" e "pressão".

Eu tinha recém me formado no curso de Direito, e na falta de concursos da PF, fiz o exame da OAB e passei. Logo comecei a trabalhar em um grande escritório de advocacia e já tinha tudo que muita gente tenta conseguir durante anos: carreira promissora, status, e muitos clientes.
Tudo muito bonito, certinho, irritantemente perfeito.

Só que havia um problema: não era o que eu queria para mim.

Quando percebi que as coisas estavam tomando um rumo muito diferente do que eu tinha planejado, tive que repensar o caminho que eu estava seguindo. Não era para aquilo que eu tinha entrado na faculdade de Direito. Mas, por outro lado, será que valia a pena largar tudo e ir atrás do meu verdadeiro sonho de ingressar na Polícia Federal?

Muita coisa entra em jogo quando precisamos tomar uma decisão como essa. Vejo amigos vendendo carro, trocando de casa, perdendo namorado, namorada, enterrando a vida social. Tudo pelo sonho de ser PF.

Como pergunta meu querido Edu, "o sonho é forte o suficiente pra que você enfrente isso tudo?"
Quem vê de fora questiona nossa sanidade mental. Diz que não vale a pena todos esses sacrifícios por causa de uma simples profissão, que, segundo eles, nem é tão boa assim.
Realmente, a Polícia Federal não é perfeita. É uma profissão com problemas, e muitos. Teremos decepções e frustrações. Haverá momentos de desilusão, mais cedo ou mais tarde, em que desejaremos não ser Federais.

Mas, pensando bem, por acaso existe profissão perfeita? Um trabalho em que não haja pressões e problemas? Se decidirmos abrir uma loja, haverá a concorrência, furtos de mercadorias, impostos altos, confusões trabalhistas. Por outro lado, um profissional liberal autônomo precisa correr atrás de clientes, lidar com recém-formados que cobram a metade pelo mesmo serviço, e também arcar com a instabilidade e a realidade de não saber ao certo quanto vai ganhar naquele mês. E por aí vai. Eu poderia citar inúmeros exemplos.

Foi aí que percebi que, ao invés de procurar uma profissão perfeita, temos que seguir a profissão que nos fará feliz, mesmo com todos os problemas que vamos enfrentar nela.
Por isso, ser policial não é algo que se faz por dinheiro, por status, por não conseguir passar em outro concurso, ou por se achar poderoso com um distintivo e uma arma. É algo muito maior. É um caminho a ser seguido apenas quando a gente ama a essência da polícia, vibra com cada vida salva, com cada delinqüente mandado para a cadeia.

Pode haver vários motivos para alguém decidir entrar na Polícia Federal. Talvez a vontade de fazer justiça, ou de proteger as pessoas, ou mesmo um tio que é policial acaba servindo de inspiração. Mas o motivo não importa. Pode não até não haver motivo algum. E não é pelo dinheiro, nem pelo status. É porque simplesmente somos assim, e nem dá para entender porque gostamos tanto dessa profissão. É como se houvesse uma atração irresistível nos puxando para esse caminho.
O que me fez largar a carreira de advogada para ir atrás de um sonho é algo que não tem explicação. Você também já deve ter sentido isso. Está muito além do nosso controle, não deixa margem para procurarmos outra coisa além da profissão de policial. Mesmo com propostas melhores, mesmo conhecendo as barreiras, mesmo com o mundo inteiro sendo contra, ainda assim nós só queremos a PF. É aquele tipo de sonho que, segundo o Edu, não é um sonho qualquer, mas um sonho pelo qual você trabalha e luta arduamente, todos os dias, a cada instante, em cada escolha.

Não sei se acredito em destino, mas talvez esse seja o nosso.

É por essa razão que, quando alguém pergunta por que eu escolhi ser policial em vez de advogada, a resposta é sempre esta:

Eu não escolhi a Polícia Federal. Foi ela que me escolheu.


Por Criska.

__________________________________________________________

Agradeço a Criska, pela excelente "resposta", e aos demais leitores que comentaram. Esse post teve um bom nível de repercussão, então fiquei muito satisfeito. Escrevam, comentem, deem opiniões, escrevam para o blog. A casa é de você.

Abraço a todos.

E rumo à Polícia Federal!

9 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Olá Criska..., parabéns pelo post. Muito bom mesmo. Esta parceria entre você e o Eduardo faz deste blog algo extremamente positivo.
    Vários pontos do seu post são dignos de nota. Aproveitando o convite para comentários, vou deixar minhas impressões sobre algumas passagens.

    “Logo em seguida despencou sobre minha cabeça uma chuva torrencial de conselhos vindos do resto da família (que preferia para mim uma profissão menos exótica e mais segura), em que se distinguiam perfeitamente as palavras "perigo", "corrupção" e "pressão".
    Isto é uma verdade. Minha mãe ficou horrorizada com a minha decisão. Filho único, tranqüilo, acho que custará até ela se conformar. Nunca fui um aluno brilhante na escola, nada de mais. Por isso, quando eu disse que estudaria para APF, nem ela nem meu pai botaram fé. Mas quando viram toda a grana que ganho ser canalizada em livros, além de horas investidas em bibliotecas, eles, de fato, perceberam que o que tinha decidido não era “uma fase”, momento, mas OPÇÃO DE VIDA.
    Na minha família alguns me apóiam, outros insistem na mesma questão: "corrupção", "risco", "que não é lá essa maravilha já que irei para fronteiras" (o engraçado é que dizem isso como se tivessem informando um leigo, como se eu já não soubesse disso).
    Sabe o que eu percebi desta situação? Que infelizmente, mesmo de entes queridos, há opiniões negativas, que involuntariamente acabam "tentando" nos pôr para baixo. Mas pode ter certeza, estes mesmos que criticam, terão orgulho de ter um parente no seleto grupo de policiais federais. Estes mesmos nos tomarão como exemplo. Mesmo nossos pais, mesmo com medo, encherão a boca para dizer para os amigos íntimos: “Meu filho é policial federal”.

    “Quando percebi que as coisas estavam tomando um rumo muito diferente do que eu tinha planejado, tive que repensar o caminho que eu estava seguindo. Não era para aquilo que eu tinha entrado na faculdade de Direito. Mas, por outro lado, será que valia a pena largar tudo e ir atrás do meu verdadeiro sonho de ingressar na Polícia Federal?“
    Creio que muitos se façam a mesma pergunta. Sabe, há uma história (que inclusive o Eduardo, como “historiador” deve conhecer), que acho que vêm a calhar nesta situação: Júlio César, após atravessar o estreito de Dover, conduzindo seu exército, mandou incendiar todos os navios, eliminando, portanto, a única forma de “retirada”. Ou vitória ou morte! Eu li isso num livro “pré-histórico" daqui de casa. Um dos capítulos do mesmo se chama “Destrua a ponte que acabou de atravassar”, ou seja, elimine formas de voltar atrás.
    Por isso, quando me questiono se vale à pena ser APF, eu respondo com o coração e ignoro tudo que é contra isso. Simplesmente, não há como voltar atrás. Eu estou investindo todos os recursos financeiros nisto, meu tempo e energia. Busco não pensar mais no “se”. E “se” eu perder este tempão e não passar? E se eu deixar outras oportunidades de lado investindo no DPF para depois dar errado?
    Não existe o “se”. VAI DAR CERTO! PONTO FINAL. SÓ HÁ ESTA OPÇÃO. OU EU ESTUDO OU “MORRO”! NÃO HÁ MAIS NENHUM NAVIO PARA EU RECUAR!
    E sabe porque eu digo isso? Duas frases do seu post ilustram surpreendentemente os motivos:

    (1) “Por isso, ser policial não é algo que se faz por dinheiro, por status, por não conseguir passar em outro concurso, ou por se achar poderoso com um distintivo e uma arma.”

    (2) “Eu não escolhi a Polícia Federal. Foi ela que me escolheu.”
    Esta segunda frase eu já conhecia (em outro contexto), mas confesso nunca ter aplicado em relação ao sonho de ser APF. Mas traduz exatamente o que sinto.
    Parabéns, ótimo post mesmo.

    ResponderExcluir
  3. caramba Criska, parece que nós todos nascemos pra isso mesmo. Eu tambem me sinto assim, parece que a PF me escolheu, não penso em outra carreira, acho que e isso que dá forçar pra seguir em frente.
    E rumo à PF!

    ResponderExcluir
  4. É bem legal posts e comentários como estes,cada um falando um pouco de si. Falando das frustações,incertezas,cobranças,mas principalmente sobre as certezas do que queremos e iremos nos tornar em um futuro próximo.

    Essa troca de experiências é bem legal mesmo,ajuda a relaxar um pouco,pelo menos para mim.

    Eu também depois de formado em Educação Física,estava muito bem na área. Trabalhava em uma clínica de personal,tinha clientes das 6-12 da manhã e das 16-22 horas e ganhava bem. Apesar de trabalhar 12 horas por dia e ouvir todo dia o problema dos outros,eu como sempre pratiquei esportes e fiz academia,gostava bastante da minha profissão.

    Mas sempre quando assistia alguma matéria sobre as operações da PC ou da PF,me identificava com aquilo e me via junto com aqueles caras. Dai vinha na minha cabeça perguntas como: "Será que eu quero ficar realmente trabalhando a vida toda com educação física?" ou "Será que é isso que quero para mim ou quero ser PC ou PF?."

    Resolvi optar pela segunda opção e tenho certeza que fiz a escolha certa. Quando falei para meus familiares e amigos que iria me dedicar exclusivamente a entra para a PC ou PF,graças a DEUS,diferentemente da maioria tive total apoio. Era até engraçado,muitas pessoas falavam que eu tinha cara (de bravo) e jeito de policial mesmo - sempre tive senso de justiça,de ser politicamente correto e de ajudar os outros -.

    Resumindo essa minha trajetória desde que larguei tudo em março de 2009 para me dedicar aos estudos;fiz meu primeiro concurso para o Depen Federal (não passei), fiz APF 2009 (70 pontos,deu não ter passado,mas acredito que não era a minha hora)e agora em abril consegui passar para investigador no concurso da PC-PR.

    Continuo e vou continuar (espero que todos aqui do blog também) nos estudos até chegar a tão almejada formatura na ANP.

    Grande abraço. Continuemos na luta.

    ResponderExcluir
  5. rs! Já que todo mundo está contando sua história, aproveito p/ contar a minha. Entrei na faculdade de odontologia, mais porquê meus pais queriam do que eu gostava do curso, mas, como aquele cara do C.O.T., o sonho de ser policial sempre mexeu comigo. Criei coragem e contei pros meus pais sobre minha decisão, no começo eles não apoiaram, minha mãe chorou, mas depois entenderam.

    Larguei a faculdade de odonto, prestei vestibular de novo, só que dessa vez pra Direito. Passei e agora estou indo cada vez mais rumo ao meu sonho, agora estou feliz e me sentindo realizado.

    Aconselho a todos que não hesitem e que atendam ao "chamado" da PF quando receberem!! como diz no post, a PF nos escolheu!! Vamos seguir nosso destino, rumo a PF!
    Abraço a todos

    Lisandro L. Souza Neves.

    ResponderExcluir
  6. Criska, querida! Eu já esperava essa sua decisão, vc sempre se destacou em todas as matérias, mas nunca conseguiu esconder uma queda por Penal... rs.

    Já a atitude do seu pai é compreensível, pois ele conhece muito bem a filha que tem e sabe que vc não tem medo de enfrentar os poderosos e isso pode te colocar em situações de perigo.. Entenda que ele só quer o seu bem!

    Nunca te imaginei na polícia comum, e sim na POLÍCIA FEDERAL, pois vc tem garra para isso, garota! Aqui estamos todos torcendo por vc. Saudades!

    Grande beijo

    ResponderExcluir
  7. Rodrigo - É... para mim não há mais volta, eu queimei o meu navio: agora é passar ou passar, não existe outra opção! ^^´

    Bruno - Sua história é bastante parecida com a minha. Você teve muita sorte de ter o apoio da família :)

    Lisandro - Ainda bem que você tomou a sua decisão logo cedo. Quanto mais uma pessoa vai andando pelo caminho errado, mais difícil fica para sair dele.

    ResponderExcluir
  8. Rowena!!!!! Pois é, acho que todos os pais são assim... se pudessem colocar os filhos em uma ilha segura, longe de todo mal, eles fariam isso.

    Você sabe que também estou com saudades e torcendo para você logo se tornar uma Promotora.

    A sorte acompanha os competentes, e sendo assim, você terá toda a sorte do mundo! Muito sucesso na Escola do Ministério Público e tudo de bom na sua nova vida.

    Beijokas

    ResponderExcluir

Deixe aqui seu comentário. O feedback é importante para continuarmos a fazer o que fazemos.