quinta-feira, 20 de maio de 2010

Cidadania

Talvez alguns de vocês já saibam, mas eu sou professor de História. Quer dizer, professor-estagiário, uma vez que ainda estou terminando a faculdade.

Sempre fui muito ideológico, o que é meio perigoso se não houver sensatez (graças a Deus, tenho uma sensatez impar). Como um "bom brasileiro", que ama seu país, eu sempre acreditei que deveria trabalhar para melhorá-lo. Acreditava que poderia, dentro das minhas capacidades, ajudar o país de três modos: sendo professor, sendo policial ou sendo militar.
Sendo professor, contribuiria para formar o futuro do país: as crianças. Ainda mais lecionando uma disciplina tão importante quanto a História (me desculpe aqueles que não gostam, mas a importância da História é inquestionável.. rsrs). Já como policial, atuaria como protetor do povo, zelando pelo sono do cidadão e pela ordem no país. O mesmo como militar, sendo que como militar atuaria num regime de "exclusividade" ao meu país (no sentido de que a razão de estar ali era pelo e para o Brasil).

E o que isso tem a ver com cidadania? Pois bem, eis o caso: esta semana teve Conselho de Classe na escola a qual faço estágio. Nesse Conselho, no momento em que a coordenadora abriu para sugestões quanto à disciplina e civilidade das crianças, eu coloquei meu ponto de vista, a qual gostaria de compartilhar com todos os amigos aqui.

A questão de "formar cidadãos" sempre me preocupou. Todo o professor de História sabe sua função, ensinada em todas as faculdades: “formar alunos capazes de desenvolver um senso crítico quando a sociedade" (há algumas variantes desta regrinha). Em outras palavras, formar alunos mais críticos, que consigam entender uma matéria sobre Política no Globo e serem capazes de formar uma opinião a respeito. É pra isso que se estuda História, apesar de alguns professores esquecerem disso.

No entanto, está muito longe de ser uma tarefa fácil. Muito mesmo. Nós assistimos a uma quantidade cada vez maior de crianças mal-educadas, ignorantes e miseráveis (material, cultural e intelectualmente). Isso é um processo necessário para que no futuro o país tenha uma educação digna de “Primeiro Mundo”. Não, não é piada, mas explico isso em outro post. O que cabe dizer agora é que esse crescente número de crianças indisciplinadas, somadas a infra-estrutura precária das escolas públicas (e particulares, muitas vezes) acabaram por torna a Cidadania um elemento cada vez mais difícil de ser oferecido a essas crianças.

Disso tudo isso na reunião e propus uma idéia. Aproveitando o espaço oferecido pela aula de “Projeto Pedagógico”, oferecida como um complemento ao currículo da escola e ministrada pela própria coordenadora (lembrando que a escola em questão é particular), eu daria então um “mini-curso” de Cidadania a eles. São alunos de 6º a 9º ano, além de serem boas crianças, apesar da indisciplina e falta de educação.

O curso consistiria em passar algumas lições sobre Cidadania. Direitos e Garantias Fundamentais (sim, o precioso e longo Art. 5º), das responsabilidades da União e dos Estados, além de tratar de algumas questões do cotidiano, sob a ótica cidadã, como a Guerra Civil no Rio, a precariedade do serviço público e outros assuntos ligados ao cotidiano deles. Estaria presente no dia da semana de se cantar o Hino Nacional, para vê se estão cantando corretamente, inclusive. Faríamos cerimônias ao Dia da Independência, da Bandeira e da Proclamação da República também. Somando tudo isso a uma nova proposta de castigos disciplinares, baseados em um modelo que tem dado certo, se “serviços comunitários” prestados à escola, no caso de infrações.

E o que eu pretendia com tudo isso? Apenas trazer um pouco de cidadania, civilidade e civismo para essas crianças. Nenhuma forma de doutrinação, muito pelo contrário, lhes dando toda a liberdade do mundo de se manifestar, defender seu ponto de vista. E é justamente isso que eu quero! Lembra do papel do professor ser desenvolver o senso crítico? Quero que eles entendam seus direitos constitucionais, que entendam os seus deveres também, além de saberem claramente o que compete ao Estado e o que compete a cada um de nós, como povo brasileiro. Vale lembrar que, apesar de meu estágio acabar oficialmente essa semana, me propus a dar essas aulas independentemente (consumindo tempo que poderia ser aproveitado nos estudos).

Sei que é uma iniciativa pequena, dentre tantas outras. No entanto, é dessas pequenas iniciativas que se começa uma reformulação da nossa compreensão de ser cidadão, cuidando para que as próximas gerações tenham isso em mente também, cuidando para que esse garoto do ensino fundamental vote amanhã, já com 16 anos, tendo plena consciência que está determinando os rumos do país nos próximos quatro anos, e que estes quatros anos podem ter reflexos em quatro décadas, com exemplos históricos, inclusive!

Peço desculpas aos amigos pela minha exaltação (notaram que nos últimos posts sempre termino pedindo desculpa?). Só queria compartilhar com vocês isso, para que reflitam e tenham consciência de que seus pais como policiais implicaram uma carga de responsabilidade para com o povo, não só no âmbito da Segurança Pública, mas também no âmbito da cidadania. Bastam vê as oficinas e cursos desenvolvidos entre a população dos morros pacificados e os Policiais Militares, vindo a partir dessa proposta (real, acreditem) de uma “Polícia Cidadã”.

Apenas para encerrar, pensem em como atuação quando, lotados em áreas de fronteiras, se veem diante de uma população carente: não só de educação, segurança e “urbanidade”, mas principalmente, carente de Cidadania.
Um forte abraço a todos.

E rumo à PF!
OBS: Desculpem a extensão do texto.

5 comentários:

  1. Pensei que eu fosse o único professor de história nessa batalha. hehehe.

    Fico feliz de saber que não tô só!Ótimo texto!

    Abraços federais!

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  2. Como de costume, texto bem legal.

    Esta sua sugestão de aulas que envolvam a cidadania, hino nacional..., foi muito boa. Incluse, minha mãe me disse outro dia que antigamente os alunos tinham aula de "Moral e cívica", o que ela é totalmente a favor que se retome hoje em dia. Eu assino embaixo!
    Por mais que os alunos, ainda muito novos, possam não se interessar, esse é o tipo de coisa que fará diferença na vida adulta deles de amanhã. Siga firme neste projeto, vale à pena!

    Então quer dizer que você (Eduardo) e Diogo King D', fazem história? O curso que faço também passa mais ou menos por aí, embora muito mais desconhecido: Museologia. Trata-se de um curso voltado para a área de Patrimônio Histórico, museus, etc. Até fiz o IBRAM, rs.
    O importante é que me dará o canudo, sendo um curso de 4 anos, reconhecido pelo MEC, bacharelado...

    Isso que importa (embora eu goste bastante do curso).
    Vamos com tudo, pessoal.
    Rumo à Federal!

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  3. Que bom que gostaram, amigos. Eu estava ficando preocupado, pois postei esse texto a dois dias e nenhum dos amigos ainda havia comentado. E, como sabem, comentários são meu único termômetro de como andam a qualidade das postagem.

    Bom saber que tem outro amigo historiador na batalha! É isso aí, Diogo, o negócio é ir à luta.

    Rodrigo, meu grande amigo, também fico feliz em saber que és um futuro museólogo! Eu fiz, junto ao ensino médio (na FAETEC) o curso técnico de Turismo, com aulas de museologia, inclusive. Aliás, foi graças a minah professor de museologia (que também me dava aulas de Cultura Brasileira), que aprendi muito dos valores cívico que mantenho até hoje. Santa mulher! Rsrsrs...

    E a propósito, também fiz o concurso do IBRAM (pra assistente técnico), fiquei em 361º de 7000 candidatos, com um total de 76 pontos, e isso no meu primeiro concurso público! Isso foi mais um empurrão rumo à Federal, me deu mais gás.

    Grande abraço, amigos.

    E rumo à PF!

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  4. Fala, meu camarada Eduardo...

    Fiz 76 pontos também no Ibram, assistente técnico. Fomos bem sim. Meu 1º concurso também.

    Bom saber que conhece um pouco sobre a Museologia. Já vi que vamos dar uma injeção cultural na federal. Quem sabe não trabalhamos na Delemaph - Delegacia de Repressão a crimes contra o Meio Ambiente e Patrimônio Histórico? Vai saber, este mundo é pequeno...

    Mas o que quero mesmo é ser agente..., DRE, fazendária..., seja o que for. Mas até que seria interessante atuar numa delegacia familiar a nossa formação, eu curtiria.

    É isso irmão. Fica preocupado não. Na boa, teu blog está no "top five" dos sites que ando acompanhando rsrsr.

    Abraços federais a todos!

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  5. Esta questão de cidadania,polícia,democracia foi abordada na redação do último certame do DPF.

    Abraço

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